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Flávia Couto's avatar

Oi, querido. Tudo bem?

Adorei essa edição da sua news! Tb acho que deveríamos aprender a cozinhar desde pequenos, como aprendemos a escrever ou a fazer contas, e que cozinhar é revolucionário.

Mas, sobre o argumento de que "a indústria alimentar se desenvolveu com a nossa preguiça, nossa passividade, nossa letargia", acho que parte de um ponto de vista um tanto masculino da coisa. Há muitos estudos que atribuem o desenvolvimento da indústria principalmente à entrada da mulher no mercado de trabalho. A indústria ocupou esse espaço de um trabalho doméstico pesado que nunca foi remunerado e que sempre havia sido executado por mulheres. Mesmo a terceirização do trabalho doméstico (que não por acaso se dá sobretudo em países de herança escravocrata) é uma atribuição patriarcal do trabalho a uma (outra) mulher, desta vez (mal) remunerada. Trabalho este que poderia simplesmente ter sido dividido com os homens no momento em que as mulheres saíram de casa para trabalhar, se vivêssemos em uma sociedade menos patriarcal.

Então, assim, acho que ainda precisamos de muita foice, muita guilhotina e muito sutiã queimado para revolucionarmos nossos cotidianos e, consequentemente, o impacto da indústria, do patriarcado (ou de nosso próprio engenho) sobre ele. Porque, para nós, mulheres, não há "ponto de vista individual". Se a exploração do nosso trabalho se dá de maneira coletiva, a resistência a ela tb deve sê-lo. De preferência, incluindo aliados homens que pensam a alimentação, como vc. ;)

Um abraço aqui do outro lado do oceano,

Flá Couto

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Rafael Tonon's avatar

Oi, Flávia, concordo com seu ponto. Mas também já conversei muito com estudiosos que defendem que essa visão de que a indústria foi muito importante para liberar a mulher pro mercado de trabalho é um pouco enviesada. Claro que, de um ponto de vista da mulher que trabalha fora e tem três filhos para criar, cozinhar pode ser uma tarefa muito difícil — e longe da romantização que o ato de cozinhar carrega muito as vezes. Aliás, esse é outro ótimo tema. Espero que mais homens possam também cozinhar e não achar que, dessa forma, estão “dando uma ajuda”. Dividir responsabilidades não pode ser ajuda, né?! Mas obrigado - mesmo!! - pelo ponto que você levantou.

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Flávia Couto's avatar

Não acho que a indústria liberou a mulher pra entrar no mercado de trabalho, Rafa. Teve a Segunda Guerra, que já tirou a mulher de casa pra ocupar postos em fábricas, várias ondas do movimento feminista, revolução sexual etc. A emancipação profissional e financeira foi uma conquista feminina, não da indústria. Mas, ao ver esse movimento acontecendo, a indústria enxergou um mercado para novos produtos, aproveitando essa "brecha" para produzir tanto refeições semi-prontas quanto inúmeros eletrodomésticos que prometiam praticidade. Claro, a divisão das responsabilidades domésticas é urgente. E isso inclui cozinhar (para além daquela única receitinha de risoto do primeiro encontro que tantos caras reproduzem por aí, hehe). Com certeza, se essa familiaridade com as tarefas domésticas em geral (não só com a cozinha) fosse aprendida por todos desde a infância, seríamos mais saudáveis e felizes em todos os aspectos. Mas, talvez a cozinha doméstica seja uma boa "porta de entrada", sim, para que mais homens assumam suas responsabilidades para com a manutenção de suas próprias vidas e a de seus filhos. ;)

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Alicia Sei's avatar

Rafa, que delícia de artigo! Tb acho que deveria ser obrigatório aprender a cozinhar, até mesmo para sermos mais seletivos e cuidadosos com o que ingerimos (de industrializados/ultraprocessados ou de restaurantes) e com os rumos que queremos para nosso planeta, já que nunca é só sobre comida. É uma responsabilidade que comumente se terceiriza, mas já passou da hora da sociedade perceber que cada um tem um pedacinho dessa responsabilidade. Obrigada pela tua escrita! :)

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Rafael Tonon's avatar

Totalmente, Alicia. As pessoas precisavam ter mais consciência da importância que tem cozinhar!

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Rodrigo Malfitani's avatar

EXCELENTE artigo! Cozinhar deveria ser matéria obrigatória nas escolas, para que as crianças aprendam desde cedo esse ato de amor de auto suficiência e, pq não, também e sobrevivência.

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Rafael Tonon's avatar

Obrigado, meu caro! Concordo com todos os pontos: matéria obrigatória.

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