Estrelas, cometas e (in)satisfações
Muitos são os prêmios e listas na gastronomia, cada vez mais dissipados. Mas há reconhecimentos que ainda não existem, e que talvez pudessem transformar tudo
É recorrente esse tema de estrelas e prêmios na gastronomia: nos últimos anos, eles se proliferaram. Há reconhecimentos para chefs, para restaurantes, para jovens cozinheiros, para propostas sustentáveis, para cartas mais surpreendentes, para o preferido entre os pares, para tudo um pouco.
Entre as expectativas e frustrações, eles seguem nas conversas, nas redes sociais e no imaginário de todo o setor. Pautam discussões, provocam efusivas análises. Há quem diga que já são muitos. Já eu, acho que quanto mais, melhor. Porque o mercado se profissionaliza, se equilibra, se elimina. “Assim, são eles que precisam se matar”, como bem disse o Andoni Luis Aduriz em uma conversa que tivemos mesmo ontem.
Há inúmeras premiações na música, no cinema, na literatura. Listas e listas nas artes, no design. Por que a gastronomia não pode ter suas chuvas de prêmios (mesmo quando elas não passam de garoas)?
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Em uma entrevista recente com Ferran Adrià, ele afirmava que é impossível eleger o melhor chef, o melhor restaurante (frase que também ouvi de Dabiz Muñoz, em uma recente entrevista que fiz com ele — leia abaixo). Isso é óbvio, claro, e já tratei o tema aqui outras vezes. Mas Adrià defendeu a criação de um prêmio de chef mais inovador, aquele que reconheça o esforço dos cozinheiros que tentam levar a gastronomia a um novo nível e aportar algo realmente transformador para o setor. Seria como um Nobel, capaz de reconhecer aquele profissional que fez algo de suma importância para toda a gastronomia. Faz sentido!
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Se perguntassem a mim, o prêmio que eu gostaria de ver teria outro viés. Criaria uma lista capaz de identificar o melhor restaurante para trabalhar. Assim como as grandes empresas se orgulham de serem eleitas pelos seus funcionários como espaços de livre pensamento, bom tratamento e reconhecimento justo, acho que a restauração ganharia muito com algo assim.
Critérios bem desenhados e respostas a serem respondidas pelos próprios cozinheiros, atendentes e lavadores de louça em questionários bem definidos e feitos de forma anônima. Salários, benefícios, criação de um ambiente de trabalho propício e sem assédio, liberdade para dar ideias, gestão pacífica.
Tenho curiosidade de ver qual seria a posição dos melhores restaurantes do mundo na minha hipotética lista. Aqueles cujos chefs sobem no palco para agradecer suas equipes, para dizer entre câmeras e microfones que mais importante que ser o melhor do mundo para os votantes, é ser o melhor do mundo para seus próprios funcionários. Tenho ideia de que os dois Top 10 comparados acabariam por ser surpreendentemente diferentes.
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Na capa da revista do Expresso deste fim de semana, minha entrevista com o cometa Dabiz Muñoz e sua ascensão global que vai da Espanha para Dubai, com novas escalas mundiais. Falamos sobre os muitos prêmios, criatividade, e como ele superou a relação tóxica que criou com seus restaurantes,
A sobremesa está para peixe: chefs no mundo todo estão usando os ingredientes que vem do mar (entre algas e ostras) para criar seus doces e eu escrevi sobre essa tendência para a minha coluna do UOL.
Finalmente, eu tenho um site para chamar de meu.
Garfadas da semana🍴
Chefs espalhados pelos EUA analisam o mercado e os desafios de gerir um restaurante nos dias de hoje [NY Times]
O que define o que vamos jantar ou almoçar? O que pode ser uma “comida de almoço” e por que dificilmente jantaríamos uma paella? A Rosa Molinero tenta responder [El País]
Quem são os bartenders noruegueses que criaram as estações de trabalho que todos os bares desejam ter? [PUNCH]
O Mark Zuckerberg foi comer no McDonald’s no Japão e, muito satisfeito com sua McRefeição, suplicou: deem uma estrela Michelin a eles [Instagram]
O CEO da Kellogg’s sugeriu que as pessoas trocassem o jantar por um pote de cereal para economizar dinheiro. A resposta que veio disso não foi nada positiva [The Washington Post]
Os franceses bebem cada vez menos vinho — e essa mudança de comportamento está colocando as vinícolas do país em desespero [Le Monde]
De partir o coração: o que comem as crianças em Gaza para não morrerem de fome [Reuters]
Uma vez, o Anthony Bourdain abriu uma thread no reddit para as pessoas perguntarem o que quisessem a ele. As melhores perguntas (e respostas) estão aqui [Instagram]
Os avanços da aquicultura estão criando novos tipos de peixes para o sushi [Taste]
Bela edição! Não sei se é um bug só aqui, mas parece o link da Rosa Molinero/El País está apontando para o McZuck no Instagram...