Comida é pretexto
Estamos aqui pra falar do que comemos — e de como o que comemos afeta nossa vida
"Não é possível pensar bem, amar bem, dormir bem sem ter jantado bem",
Virginia Woolf
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Há quem pense que gastronomia é futilidade, que comida é um assunto “menor”.
Especialmente no Brasil, a imprensa em geral dá pouquíssimo espaço ao tema. E os parcos espaços que foram conquistados para debater o assunto no decorrer dos últimos anos estão a minguar a cada dia… Falta comida na mesa de discussões.
Falo isso para tentar explicar (e precisa?) porque decidi resgatar a ideia de ter uma newsletter. Na semana passada, pedi a um grupo de amigos publicitários que me ajudassem com o nome dessa missiva virtual. Expliquei o que queria abordar (comida como pretexto para falar de tudo, que é o que tem sido meu lema como jornalista da área, tendo escrito sobre isso para revistas tão distantes quanto a Capricho e a piauí) e um deles questionou: “mas é só sobre comida ou você sabe escrever de outras coisas?”
Nunca é só comida, pensei eu. E quero acreditar que poderia escrever sobre outros temas, é claro. Mas calhou de eu gostar da comida e ela gostar de mim. Aconteceu. Deu match! E, como num relacionamento desses de comercial de manteiga (margarina, nunca!), vivemos sempre felizes, falo sempre dela quando posso, com o mesmo brilho no olhar de quando tudo era só uma paixão.
Mas eis que, no mesmo dia, por pura coincidência (pra quem acredita nelas), outro cara que também escreve (muito) sobre comida, no caso dele para o Guardian, um dos melhores jornais do meu mundo, publicou um texto que eu logo encaminhei ao meu amigo, no nosso grupo de WhastApp.
“Yes, I’m a food writer — and that qualifies me to write about everything”, era o título. Jay Rayner, que escreve muito melhor que eu, com muito mais humor também, foi fustigado no Twitter (a arena virtual criada para isso) por um post político, ao qual um de seus haters respondeu: “se atenha à comida, Rayner”, dizendo que ele não era qualificado para discutir assuntos “mais nobres” como as ações do primeiro-ministro britânico.
“Me ocorreu que seria mais construtivo se eu listasse as maneiras como os alimentos afetam da política à tomada de decisões. Isso me permitiria compilar uma lista de assuntos sobre os quais eu poderia twittar”, escreveu ele na sua coluna. E numa série de pontas soltas que foi arrumando cuidadosamente como fazemos com o spaghetti na colher (como assim você não come spaghetti com colher??), mostrou seus melhores argumentos para comprovar que comida é política. Mas também pode ser filosofia, pode ser hedonismo, pode ser antropologia, claro, pode ser literatura, artes, e é sempre geografa, sempre história…
Enfim, comida, como já disse lá em cima, é também pretexto. Pelo menos o meu, para falar de tudo aquilo que está à minha volta, de onde vejo as coisas invariavelmente sentado numa mesa, quase sempre com um prato e uma taça a frente.
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Bom, é por isso que estou aqui. Vou compartilhar reportagens, pensatas, dicas, algumas reclamações (estou no meu espaço!), e a indefectível lista de leituras das coisas que garfei por aí, como fazia na minha finada newsletter.
Espero que você desfrute de tudo o que eu quero servir. Pode sentar e ficar à vontade. Se não gostar, há outros sabores e outros serviços por aí. Mas enquanto estiver por aqui, bom atendimento é serventia da casa. E tudo chega à mesa sempre ao ponto!
Nos vemos de novo logo.
Abraços,
Rafa
Excelente, Rafael! Já estou inscrita e animada com o próximo prato!
Salve Rafael! Cheguei aqui pela Bia Amorim. Que surpresa boa! Já estou com fome de assunto =) Valeu por compartilhar!